Tipinhos da noite de Venâncio Aires

Formatei meu micro esses dias. Estava procurando um arquivo e encontrei um esboço, que eu tinha feito, de julho do ano passado, sobre os tipinhos da noite de minha pacata cidade. Fiz uns ajustes, acrescentei umas coisas e consegui terminar meu catálogo dos tipinhos (sim, eu sou mais nerd que você imagina). Os tipinhos estão catalogados por faixa etária e sexo. A dissertação é em primeira pessoa.
ATENÇÃO: QUALQUER SEMELHANÇA COM FATOS REAIS É MERAMENTE O ACASO. ESSE POST É DE CUNHO CIENTÍFICO.

Tipinho Número 1

O mirim (13-17 anos)

Masculino: chega de escola, prova de matemática, vídeo game e futebol. É hora de ir pra balada “pegá mulé”. Tudo pronto: Nike Shox, bonézinho virado, corrente de prata, pulseira de prata, camiseta de time de hockey, calça larga “figurido black, malvadeza”. É pra botar terror nos “prayba” e calor nas gatas. Costumamos sair em bando – se reunimos na casa de alguém e o pai escolhido leva a trupe pra guerra. Na "nite", falo alto, dou uns tapas num pentelho de 12 que está junto, faço cara de mau, acendo um crivo (só eu sei tragar da turma), me deslumbro com essas casas noturnas. Pobre dos meus colegas que ainda não saem a noite - ficam em casa jogando Winning Eleven, não pegam nada! Na baladadera, não demarco muito território, mas na minha área, no meu cantinho de boate, eu sou o rei, o patrão – não passo 2 semanas sem ficar com alguém e no máximo fico 1 mês sem passar a mão num peitinho. Bebo uma ou duas latinhas, vomito (as vezes, quando misturo), e me gabo na segunda-feira, no recreio, porque vomitei e voltei a beber (sou um bebaaaasso). Geralmente só pego alguém na noite, se encontro alguma mirim da minha escola, de uma ou duas séries abaixo. No mais, saio só pra curtir, tirar onda e ficar locão de tanta ceva.

Feminino: já me considero uma adulta. Saio desde a 7º série. Perdi a virgindade de boca com 11 anos (mas não gostei do beijo, está escrito no meu diário hihihi) e dei com 13 (não queria ser a última da turma). Meu assunto, em rodas, é a vida alheia “tu viu com quem a Fulaninha ficou?”, “hum...será que ela vai dar pra ele hoje”. Dou de primeira. E como dou! Quantidade > qualidade, sempre vou preferir dar para um fodão, que vai me jogar fora e que já comeu toda a turminha, do que ficar com aquele guri gente fina que a vida inteira gostou de mim. Hoje vou causar na festa. Botei minha calça Rola-Moça e fiz chapinha. Será que ele vai chegar em mim hoje? Na badala, costumo fazer fiasco, gritar, chorar (quando aquele menino fica com outra). No final da festa, a mãe de alguma menina nos busca, ficamos “acampadas” na casa de alguém, lá comentamos as “ficadas” da galera. Amanhã estarei sozinha em casa, vou ligar pro Fulano e roubar ele da Fulaninha.



Tipinho Número 2

O fodão (18-24 anos)

Masculino: chega dessa pirralhada, chega de dar beijinho, eu quero é “come uns rabo”. ! Tomo um banho demorado, gel no cabelo e aquele perfume francês. Visto meus pano da Quiksilver, meu pisante Qix, bonezinho Von Dutch (nessa idade já sei o que é bom), faço 5 séries de bíceps e vou pra “nite”. Costumo me dar bem com as mirins - acredita que algumas até choram por mim? Pego, como e largo fora, pode chorar bitch. Eu transo muuuuito! Domino os picos! As vezes engato um namorinho de mentira, mas só pra comer. Tenho um ego inflado de auto-importância, sou cool. Chego na festa arrasando (nunca cedo, chegar cedo é coisa de mirim), todas olham pra mim, pego uma ceva ou um uísque, bebo, bebo mais e não fico bêbado (não sou mais mirim). Tenho um papo bom, sei trovar a mulherada “Eaí, onde tu estuda? “. Estou sempre sorridente, nada me abala, sou parcero dos mano, amigo das mina (mas só pra tentar comer). Falo do ramo empresarial do meu pai, da inveja que a galera tem de mim, dos meus carros, das minhas loucuras da faculdade, uau como eu sou hype. Odeio pagode, mas escuto e danço porque as mina gostam e meu negócio é botar pra dentro dos rabo. Chego numa, chego em duas, nem todo dia é dia do caçador, insisto, quase pego uma, largo, vou pra outra, quase pego de novo, tchau pra ela, tento outra, mais outra, volto pra primeira, trovo um tempo, vazo fora, chego numa, chego noutra, mais outra, ta difícil, é finalera, zero a zero nem a pau, chego num refugo e pego (sem vontade, mas pego), o negócio é somar ponto. Amanha no MSN meus amigos vão perguntar “pegou qtas? e eu vou poder responder que peguei 5 e “quase” comi 3. Semana que vem eu como certo.

Feminino: já fiquei com meia cidade. Estou manjada. Meu passado me condena. Já fui matratada, já chorei. Hoje me valorizo mais, aprendi com meus erros. Não saio ficando por aí, o-d-e-i-o pirralhos e gosto de esnobar esses fodões. Geralmente marco esquemas por fora, e caio na lábia de qualquer um (ninguém é de ferro). Na real, eu quero namorar, quero um namorado que me ame, mas só amanhã, hoje eu vou dar para algum perdido. Minha turma não é mais a mesma, foi cada um para um lado. Metade das minhas amigas namora, a outra metade, procura namorado. Quem procura nunca acha, porque ninguém quer quem procura. De qualquer maneira, já sou mulher madura. O colégio já passou, estou na faculdade. Sou uma pessoa vivida, já li todos do Paulo Coelho. Muitos, que não me conhecem, me querem. Sou pé atrás, criei peitos nos últimos anos, emagreci, é hora de me fazer de difícil. Só dou de segunda.


Tipinho Número 3

O perdido (25-29 anos)

Masculino: meus amigos estão namorando ou noivos. Está difícil arranjar turma para sair. Todas as festas estão uma merda. Mas não posso desanimar, estou solteiro e tenho carro. Ninguém é páreo para mim. Já tenho minha fama na city. Vou por minha calça Zoomp, meu sapato style bico fino e minha camisa Ralph-Loren roxa (sou macho o suficiente para usar roxo). Tenho uma profissão, sou um cara culto (já li o Código Da Vinci), responsável e bom de cama. Já não quero só quantidade, meu negócio é qualidade. Cansei de trovar mulher - essa busca incessante por sexo - estou de saco cheio de mim mesmo. Me irrita tomar fora de fodonas e mirins, que não valem um peido molhado e que adodariam transar com o véio aqui. Mas hoje, sim, hoje, eu vou chegar sozinho, arrasando na balada. As fodonas e as mirins vão cair aos meus pés, pois já sou um cara maduro, experiente, já fiz balada em POA, Floripa, intercâmbio pros EUA, só time grande. É hoje que saio da seca!! “Oh hell, mais um fora, como ela pode preferir um mirim vestido de mano daqueles!! Melhor eu ir pro carro dar umas bandas, ver se arrecado uma puta ouvindo meu cd do César Menotti”.

Feminino: enfim, estou solteira. Terminei meu namoro de 5 anos. Sou livre, sou guerreira, sou baladeira uhullll. Vou aproveitar agora o que não pude fazer antes. O céu é o limite. Liguei pras minhas amigas e convidei para sair. Todas ficarão em casa vendo filme com os namoridos. Vou ter que sair mais uma vez com a turma da minha prima de 16 anos. A parte ruim é ter que dar carona pra elas (como gritam!). Estou meio perdida, não conheço mais ninguém na night. O jeito é se enturmar com o pessoal mais novo, fazer de conta que estou gostando da companhia deles para não parecer deslocada e infeliz. Vem cá mirim, mata a minha carência. Ih, lá vem o site de fotos, mais uma minha no meio da pirralhada! Que vergonha! Tomara que não vá pro jornal. Que saudade do meu ex.


Tipinho Número 4

O papa-anjo (30-40 anos)

Masculino: meus amigos estão casados, com filhos - a essa hora devem estar dormindo. Eu não, casar é para otários. Não quero saber de namorar. As vezes me sinto fora de moda, o pessoal de hoje em dia usa cada roupa. E essas músicas, que coisa horrível, por que não toca um Legião ou AC/DC aí? Fico meio pelos cantos, pragejando contra a piazada que dominou a cena. No meu tempo de Sovinha, era diferente, aquilo sim era noite. Tento puxar assunto com algum perdido, parecem estar me evitando. Olho com cobiça as menininhas de 16 anos. São essas que eu gosto. Mas está difícil, elas não olham! Já estou com meus trinta e tantos e ainda não arrumei alguém, acho que essa minha calvície é meio exótica para as mirins. “Tio, me dá licença?”

Feminino: saio vestida para matar. Geralmente com alguma sobrinha, ou filha de amiga. Desde o divócio, passei e freqüentar ambientes de gente com metade da minha idade. Exagero, freqüentemente, nas doses de álcool e, costumeiramente, dou vexame. Meu negócio é dançar, nada de beijinho na boca, não tenho mais idade para isso. Fico dançando e fuzilando a garotada, sou ousada, tomo a iniciativa. Quanto toca um flashback (tipo Bee Gees, Madonna, Village People, etc), eu fica enlouquecida - músicas do meu tempo é o canal!
Na finaleira, minhas amiguinhas já estou ficando com seus pares. Fico meia sem jeito, mas não paro de sorrir e dançar feito uma égua laçada pelas virilhas. "Olha lá o filho da minha amiga. Bonitinho ele, daria um caudo". Quando a boate está para fechar, um perdido ou fodão chega em mim. Não trocamos duas palavras e já vamos direto pro meu apto transar. Afinal, ele só me quis pra isso mesmo. “Xiii, menos barulho, minha filha pode acordar”.