Calor

Tá loco.
Essas altas temperaturas de começo de verão me dão um desânimo.
Fico tipo um véio aleijado de cem anos depois de correr uma São Silvestre, puxando uma carroça com duas toneladas de esterco.
O sol é tão sem noção que o cara entra no carro e não consegue nem pegar no guidão volante.
Isso me lembra de quão agradáveis são as tardes nubladas de inverno, onde eu tenho ânimo para trabalhar e ficar indo pra lá e pra cá sem suar o rabo.
Verão só é bom para quem é vagabundo: "Uhull chegou o verão. Cerveja, mulher e curtição! Altos banhos de sol na praiúxa! Adooooro!".
Vai sentar um carreiro de tijolos com esse sol no lombo pra ver se é bom pegar um bronze, mané surfista.
E pra ti patizinha que adoro a "marquinha do binquini", vai colher uma arroba de fumo baixero com esse sol tinhoso te cozinhando, isso dá uma marquinha muito sensual - vai arrasar!
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Como eu disse, é tempo de pegar uma cor e chegar a-r-r-a-s-a-n-d-o no verão.
Igual essas polaca de Venâncio, brancas que chegam reluzir, que vão pro Balneário Arenhardt, São João ou barranca do Rio Taquari, jogar volêi e tomar banho de sol, sem usar protetor solar é claro, e no outro dia tão igual um lagarto descascando, da cor de um tomate, coisa mais linda do mundo.
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Não sei onde li uma vez que não há nada mais depressivo que uma sucessão de dias bonitos.
Não sei de quem eu herdei isso, mas é só dar um relâmpago que fico mais faceiro que ganso em taipa de açude.
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Eu pego um bronze de pedreiro coisa mais linda no verão.
Fico só com os braços e o rosto bronzeados.
Também, quando estou no sol, estou trabalhando de calça e camiseta.
Quando não estou trabalhando, estou em qualquer lugar, menos no sol.
Elementar meu caro Uótinson.
Falar em Uótinson, taí um nome bonito pro meu filho - bem moderno, bem ingrês.