04/04/2008

Vendedor de fumo

É bonito de ver!
Nessa época do ano, o pessoal do interior invade a cidade.
É hora de vender o fumo, gastar o dinheiro da safra no comércio e cair, às vezes, no conto do bilhete.
Esses colonos (no bom sentido) são todos iguais.
São feitos em moldes - fabricação em série.
Quer um exemplo?
Olhe para qualquer bodega às 7 da manhã e verá um sujeito de camisa com os 3 botões de cima abertos, calça social com a borda dobrada 3 vezes, chinelo havaiana preto (tradicional), boné (do banco Sicredi ou qualquer loja que venda em 36x local), de perna cruzada e tomando uma Kaiser, com o copo transbordando, bem tranquilo enquanto "vê o movimento".
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Quem está no comércio já conhece bem essas figuras.
Costumam "bater perna" na cidade em busca de promoções e preços baixos.
Se querem comprar um rádio a pilha, passam em 300 lojas pedindo desconto, até que algum vendedor desesperado lhe "dê de presente" o rádio.
Não raramente, chegam jogando pra baixo o preço:
- Tem cimento?
- Tem.
- Como vocês vendem o cimento aí? *quer saber o preço*
- À vista, 16,50 o saco.
- Má tá caro, lá no Delavi me fizeram 10 cruzero o saco. *só pra constar, o custo é 14,00*
- Então vou lá comprar também.
Ou também:
- Quanto voceis faiz o litro do diesel?
- R$ 1,95.
- Tá caro. Lá no Klein-Schulz me fizeram R$ 1,50 o litro e lavam as merda da minha carroceria de graça. *o litro custa R$ 1,75*
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Outra coisa peculiar, são os "ofícios" pedindo brindes para suas festa do tipo "Jantar-baile do Clube Feminino de Bolãozinho de Mesa de Alto Paredão" ou "Galinhada do Clube da Terceira Idade da Associação dos Bingueiros de Linha Madalena".
Eles chegam em janeiro pedindo brindes para festas que acontecerão em dezembro. 0.O
E se o cara dá algo "barato", ainda reclamam.
- Arrr, mai não tem cousa melhor?
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Dinheiro: ninguém é tão apegado a "tinheru" como essa colonada.
Eles compram uma carreta de R$300.000,00 à vista e logo depois escondem a cerveja em baixo da mesa pra ninguém vir se servir. Já vi várias vezes eles enchendo o copo "na moita" com medo de algum pussuca.
Muitos guardam o dinheiro em baixo do colchão porque "dispois daquela veiz do Collor, banco nunca mais".
Muitos fazem competição.
Se o vizinho do lado tem 300 porcos, o outro precisa ter 301.
Se a vizinha faz para vender 100 litros de chimia por dia, a outra tem que fazer 110 litros (nem que metade tenha que atirar no açude depois).
Se esse ano um vizinho de comunidade colheu 100 mil pés de fumo a mais, ano que vem o outro precisa superar essa marca - nem que para isso tenha que se afundar no Pronaf ou Pronafinho.
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O ápice do sucesso para eles é ganhar o concurso anual do produtor modelo.
Representar a sociedade e levar o troféu, é praticamente como ganhar uma Copa do Mundo.
Acreditam que tem até torcida organizada nesse evento?
O locutor falando - "Agora, representando a Sociedade Recreativa Associativa de Recreação e Galinhadas Bom humor de Linha Cecília....eles...que colheram 1 milhão de grãos de milho, 700 mil arrobas de fumo, 3 mil litros de leite....eles...o grande casal, o super casal... Análio e Matilde Micoca!!!!"
E a torcida indo ao delírio! 0.O'
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Os mais jovens, gostam de jogar futebol, brigar, ir aos bailes nas comunidades, brigar, torcer para o time da comunidade, brigar, jogar futebol, brigar, ir aos bailes nas comunidades, brigar, torcer para o time da comunidade, brigar, jogar futebol, brigar, ir aos bailes nas comunidades, brigar e, às vezes, brigar.
A maior satisfação é comentar entre a turma da comunidade que foram lá no Palanque e cagaram não sei quem a pau ou que o time da Linha Teresinha veio jogar ali e tomaram uma tunda de laço.
80% gosta de ouvir bandinhas, 19% gosta de dance music estilo Audio Som e 1% são "roquistas" - ouvem o bom e velho rock estilo Dire Straits e Creedence (ícones do rock colony).
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As mais jovens são namoradeiras.
Gostam de ir nas domingueiras para namorar bastante.
Seguidamente são vistas no meio de plantações de mandioca ou milho tomando ferro.
E os pais crentes que tão arrumando casamento com "gente do dinhero" para a filha que ainda é pura.
Muitas cansam da vida do interior e vão trabalhar na cidade.
Acabam se metendo com moleques metidos a manowwsss, já que de alemão-com-pente-no-bolso elas estão fartas.
Trocam o milharal por becos e afins.
Trocam o som das bandinhas de kerb por pancadão de funk (já que agora são modernas e ouvem o que toca na "Téra FM".
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Aff...tá muito grande esse post...parei.

2 comentários:

Unknown disse...

Quando fui convidado pela primeira vez para conhecer um “baile do interior”, imaginava moças recatadas e de “difícil acesso”(sic!). Mas ao chegar no estacionamento, (que em geral é no campo de futebol da Associação Recreativa Jovialidade e Galinhada...) vejo uma cena que nunca mais saiu da retina, uma caminhoneta Pampa com a tampa da carroceria aberta uma moça com as “perna para o ar” e o colono “plantando” a mandioca nela. Imagine todos passando e olhando aquela cena com a maior naturalidade!!!!!
E eu achando que veria isso só nos bailes funk do Rio.
Maldita globalização!

Anônimo disse...

Realmente Terra FM é feita para o pessoal do interior. Quinta pela manhã por alguma insanidade meu colega de trabalho ligou o rádio, em menos de 5 minutos a Cássia Kist falou os recadinhos da galera, de todos que eu ouvi só me lembro de um que era de uma pessoa da cidade, o restante era do interior.