29/08/2007

Meu apego ao triste

Li hoje na coluna do Sant'ana que desde a aurora de sua vida lhe acompanha os versos trágicos de poemas e músicas. Entre os apreciados, destacou Augusto dos Anjos, Vicente Celestino e Francisco Alves. No final ele disse ao ser perguntado por que andava tão triste: "Eu não ando triste, eu nasci triste, eu fui educado para ser triste".
Ao acabar de ler, fiquei pensando que também possuo uma forte tendência ao triste quando se trata de poesia e música brasileira (música internacional me flexiona para algo alegre também). Meus poetas preferidos são os pessimistas, amargurados, tristes e solitários. Não consigo achar beleza em um poema feliz. O poema é mais poema quando escrito com sangue e lágrimas. Ninguém faz poesia sem um caos dentro de si, e do caos se originam as luzes cintilantes; já dizia o tio Niti. Não por acaso minha festa de aníver foi algo em homenagem ao trágico, e deveras fez jus ao propósito. Alguém diria que é normal um cara de 26 anos ir na academia ouvindo Nelson Gonçalves no I-Pod? Todo mundo no pique ouvindo "Im a Barbie Girl...." e eu fazendo força com "Hoje sou folha morta..." nos ouvidos.
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Antes que alguém pergunte, eu não sou depressivo e no momento minha vida pessoal está muito bem, obrigado. Meu apego ao triste transcende qualquer estado de espírito em que eu posso me encontrar. É mera questão de gosto. Já vi gente que gostava de axé tomar o rumo do "gaio".
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Ao ver Sant'anna citar Vicente Celestino, lembrei de cabo a rabo a letra de "O Ébrio". Costumo cantar com um amigo meu, também apreciador do triste ou carinhosamente chamado: brega.
E por que o triste é brega? Hoje em dia brega é o feliz. Ser feliz é brega. Além de brega, é cínico. Esse mundinho rosa está demodè, uncool. A não ser que tenha ganho na loteria, não vejo motivo para alguém andar por aí com sorriso Colgate na cara. Se você ver alguém na rua, portanto, com sorriso Colgate estampado, pode marcar com X:
a) É burro e ignorante
b) É cara de pau
c) É mascarado
d) É hipócrita
e) Ganhou na loteria
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Resumindo, cool e descolado é ser pessimista como eu. Apreciar o trágico, sodomizar dilacerantemente o coração, sentir a beleza do triste, chorar lágrimas de sangue, cortar mentalmente os pulsos a cada canção ouvida...

Observação 1: O texto contém doses de ironia.
Observação 2: Não confundir com EMO, que sofre por motivos fúteis. E eventualmente, dá o rabo.

5 comentários:

Anônimo disse...

Cool.
Tás escrevendo cada dia melhor

Anônimo disse...

Tr�gico e c�mico ao mesmo tempo, este � o una hhehhee
beijinhos

Unknown disse...

ahh.. esse é um blog interessante pra ler...

e realmente.. o trágico tem uma magia maior do que florzinhas num jardim cor de rosa...

quanto a felicidade alheia.. acho que pode existir sim uma pessoa que sempre sai por ai com o sorriso colgate (vide aquele cara no centro que passa o dia inteiro andando pela oswaldo aranha sorrindo).. pode ser por simples felicidade..

Rafael Romero disse...

Simples felicidade não, se fosse, ele passaria sorrindo apenas uma vez, não todos os dias! Esses "bocas de vitrine" para mim, não passam de medrosos! Apenas os idiotas são felizes todo o tempo!!!Ou por serem, ou por pansarem q são deveras felizes todo o tempo! Felicidade infinita???? ONDE?????

Rapunzel disse...

Augusto dos Anjos, Álvares de Azevedo... a beleza "sutil" do dramático, melancólico...
não deixaria de citar o sarcástico

mas assim como disseste que foi ensinado a ser triste, pode que alguém tenha sido ensinado a ser feliz, e é, de fato, feliz

não que eu achei muito interessante uma pessoa sempre feliz e sorridente, mas deve existir...

(nossa... ponto de encontro :P)