18/05/2007

Jaqueline

É de longa data sua simpatia pelas bolinhas.
"Papai caminhoneiro sempre tinha no porta-luvas e tinham um gostinho tão bom".
Na adolescência suas melhores amigas eram a Diazinil e a Ritalina.
Viviam juntas trocando confidências durante toda a madrugada.
Quando começou a engordar, arrumou um namorado, o Dualid.
O Dualid tinha ciúmes da Diazinil e da Ritalina. E vice-versa.
Mas o carinho que Jaqueline tinha por todos transcendia qualquer obstáculo.
Na faculdade, conheçeu o Pervitin.
Se apaixonou.
Dualid ficou puto da cara.
Diazinil e Ritalina já não tinham com ela o mesmo contato de outrora.
Se reuniram num sábado de noite para aparar as arestas.
Jaqueline prometeu a todos atenção mútua e sistemática 24 horas por dia.
De manhã escovava os dentes com Dualid.
O café, adoçava com a Ritalina.
No feijão, colocava Diazinil para temperar.
O suco de Pervitin era o seu preferido.
Nesse embalo, Jaqueline ia administrando seus amigos.
O tempo passou.
Uma noite entrou no banheiro e começou a limpar.
Tentou apagar os rejuntes. Eles destoavam do azulejo branco.
Foi difícil.
Gastou a escova, as unhas, os dedos e as mãos inteiras.
Pintou tudo de vermelho.

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